A luta contra síndrome do pânico – Por Tatiana

Caro(a) leitor(a), hoje compartilho com você um resumo da minha vida com a síndrome do pânico. Me chamo Tatiana, tenho 44 anos, casada, mãe de dois filhos e moro no estado de São Paulo.

Após conversar com o Matheus, proprietário do Tchau, pânico!, apoiei a ideia de também expor minhas experiências com essa doença e ajudar aqueles que, de alguma forma, possam se sentir abraçados ao ler. Portanto, se arrume na poltrona e seja bem-vindo(a) à minha história.

Os primeiros sinais

Bem, minha história com a síndrome do pânico começa aos 25 anos de idade. Certo dia, assistindo ao último capítulo da novela “Cidadão brasileiro”, na Record, comecei a ter as primeiras sensações ruins. Hoje, com todo meu conhecimento, vejo que aqueles já eram sintomas de um episódio de pânico. Porém, os anos passaram e aquelas sensações nunca mais apareceram… Parecia ter sido apenas algo pontual.

Até que em 06/06/2016, um episódio marcante aconteceu e trouxe uma nova onda de pânico: O falecimento de minha mãe, vítima de infarto. Não conseguia me conformar em tê-la perdido tão cedo. Em certa madrugada, alguns dias depois do ocorrido, enquanto chorava na cama, comecei a sentir dores no braço e no peito, acompanhadas de falta de ar. Ou seja, eu estava diante de uma nova crise.

Fui para o hospital, e na minha cabeça era certo que eu morreria naquele mesmo dia. Porém, nada foi encontrado, mesmo após fazer um eletrocardiograma lá (me deram apenas um comprimido de Diazepam e depois voltei para casa). Aos poucos toda tristeza e aqueles sintomas foram passando e, por mais um tempo, a síndrome do pânico me deixaria em paz.

O pânico voltou

Três anos mais tarde, entretanto, em dezembro de 2019, uma nova crise surgiu. Durante a COVID 19, comecei a ir ao trabalho de carro (havia tirado minha carteira há pouco tempo). Infelizmente, aqueles momentos dentro do carro se transformaram em períodos terríveis. Começava a suar, minha visão ficava turva e certa vez precisei parar o carro e chamar minha irmã para me socorrer.

Comecei a me questionar se o nervosismo pela pouca experiência no trânsito não seria o motivo das sensações ruins terem voltado e decidi, portanto, criar uma estratégia: Durante uma semana eu faria meu deslocamento ao trabalho de ônibus para tirar a prova real.

Na 2ª e 3ª feira deu certo, me senti super bem. Porém, a 4ª feira mostrou que havia algo mais e naquele dia eu me senti horrível e muito agoniada. Quando voltei para casa, por exemplo, nem sequer dei “oi” para os meu filhos, e fui subindo direto para o quarto para deitar e tentar aliviar aquela agonia. Minha filha, vendo a situação, perguntou se eu não iria no médico e achei uma boa ideia sair para ir ao posto de saúde.

O início do tratamento

Chegando lá informei aos atendentes que estava me sentindo muito mal e precisava de ajuda. Alguém trouxe uma cadeira de rodas logo em seguida, mas após isso eu apaguei. Me lembro vagamente de ouvir algumas falas ao meu redor, mas eu havia simplesmente apagado.

Quando acordei já havia sido examinada e o médico me chamou para conversar. Segundo ele eu acabara de passar por uma crise de ansiedade fortíssima e precisava, portanto, ser encaminhada para uma consulta com psiquiatra e psicólogo. A partir daí comecei meu tratamento contra essa doença, com auxílio de medicações e terapia. Infelizmente não foi um período fácil e passei por muitas oscilações até conseguir acertar na medicação. Inclusive saí do meu trabalho, pois eu não tinha condições de trabalhar estando daquela forma.

Um pequeno parênteses: Antes desse episódio, eu criei o hábito de ir ao mercado depois do trabalho para comprar uma cervejinha. Comecei comprando uma… Depois duas… Depois três… Até que viraram quatro e minha dependência do álcool só aumentava. Entretanto, quando comecei a tomar a medicação precisei parar de beber imediatamente. Hoje enxergo que essa bendita doença me “ajudou” a não me tornar alcóolatra.

Um pequeno descuido

Entre 2021 e 2022 iniciei um curso para técnica de enfermagem. Nessa época eu seguia com os acompanhamentos médicos e já me sentia bem melhor. Na verdade, me sentia tão bem, que em certo momento acabei esquecendo de voltar ao médico e fiquei sem meus remédios 🫥

Em uma das atividades durante meu estágio dentro de um hospital (o mesmo em que minha mãe havia falecido), fiquei marcada ao fazer a preparação de um cadáver. Não consegui parar de pensar na minha mãe ao imaginar que ela havia passado por esse mesmo procedimento. Talvez aquilo tenha sido um gatilho para mim, pois já no dia seguinte, pela manhã, fui tomada por uma crise muito forte. Sentia que meu corpo pegava fogo e minha boca amargava.

Pedi ao meu marido que me levasse ao médico, pois aquele gosto amargo parecia o “gosto da morte”. Ele tentou me ajudar dizendo que eu estava apenas passando por uma crise, mas aquilo não entrava na minha cabeça. Passei a manhã toda pulando de crise em crise e tentando lidar com aquilo tudo. Alguns dias depois, quando voltei ao médico, expliquei o acontecido e revelei que havia ficado um tempo sem remédios. Obviamente tomei uma bronca do médico e voltei a tomar as medicações fielmente, conforme manda o figurino.

E hoje

Os anos passaram e minhas consultas com psicólogo e psiquiatra continuaram (com uma pequena pausa neste ano de 2025). Hoje sigo tomando 4 remédios diariamente e, felizmente, me sinto bem, apesar de algumas pequenas recaídas leves.

Ao longo do tempo comecei a pesquisar muito sobre as causas do pânico e encontrei diversos depoimentos de pessoas nessa situação pedindo por ajuda. Foi nesse momento que tive a ideia de criar um grupo no Whatsapp chamado Síndrome do Pânico. O objetivo é ter um espaço aberto com pessoas que entendam a seriedade das crises e que possam, de alguma forma, lhe prestar apoio.

Sei que por vezes as próprias pessoas ao nosso redor menosprezam nossos sintomas e não acreditam no tamanho do sofrimento. Porém, lá você encontrará um ambiente que sabe exatamente o tamanho da sua dor e estará de braços abertos para lhe acolher → Link.

Convite para você também contar sua história e experiências com a síndrome do pânico

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