Do pânico para a cura – Por Lily

Texto também disponível em áudio.

Caro leitor, quero hoje compartilhar com você um breve resumo da minha vida com o pânico e meu processo de cura. Me chamo Lily, tenho 47 anos, sou mãe de 3 filhos e moro no estado de Minas Gerais.

Após conversar com o Matheus, proprietário do Tchau, pânico!, apoiei a ideia de também expor minhas experiências com essa doença e ajudar aqueles que, de alguma forma, possam se sentir abraçados ao ler. Portanto, se arrume na poltrona e seja bem-vindo(a) à minha história.

As primeiras crises

Bem, minha relação com o pânico tem um pouco de tudo. Medo, tentativa de suicídio e frequentes idas ao pronto-socorro, por exemplo, são alguns desses ingredientes. Porém, hoje digo de peito aberto: Me sinto curada!

Minha primeira crise de pânico aconteceu há cerca de 25 anos, antes do nascimento da minha primeira filha. Na época, quando engravidei, fui “incentivada” pela minha família a casar, pois ser mãe antes do casamento era impensável para uma família tradicionalmente religiosa como a minha. E assim o fiz.

Entretanto, pouco tempo depois, percebi que acabara apenas de oficializar um relacionamento abusivo e repleto de ameaças (que duraria cerca de 3 anos). Durante esse tempo, o medo dentro de mim foi crescendo e tomando conta da minha vida. Posso dizer que a partir deste relacionamento minhas primeiras crises foram ativadas e o pânico começou, então, a fazer parte do meu dia-a-dia.

Pessoas, rua e comer… Não!

Passei a sentir medo de tudo, inclusive de pessoas. Não obstante, minhas idas ao hospital, com a sensação iminente de morte, se tornaram frequentes. Infelizmente, esse medo todo só aumentou, até o ponto de se tornar algo terrível. Dominada por ele, algumas foram as vezes em que me tranquei no quarto e me escondi embaixo da cama ao ouvir vozes de pessoas dentro de casa. O que eu ouviria se conversasse com as pessoas? O que isso me causaria? Essas perguntas eram amedrontadoras para mim.

Não demorou muito para que sair e até mesmo comer também se tornassem coisas terríveis para mim. O medo de cair no meio da rua e o pensamento de que a comida me faria mal passaram a dominar minha mente. Acredite: Cheguei a perder 11kg neste período.

Durante as crises, minhas mãos formigavam e minha mente me dizia que algo horrível estava prestes à acontecer. Cheguei até mesmo, em crises mais fortes, a perder momentaneamente a visão – sintoma este causado por enxaquecas fortíssimas que apareciam neste período devido ao meu estado emocional.

Os períodos mais difíceis

Já cansada de lutar, decidi acabar com tudo: Tomei 30 comprimidos de uma só vez (misturando medicamentos tarjas preta e antidepressivos), na tentativa do suicídio. Claramente isso não funcionou, e cá estou para te contar a minha história.

Em determinado momento, depois de um período de melhora, passei por um episódio traumático na vida de qualquer ser humano: A perda da minha mãe. Minhas crises, que por algum tempo haviam me deixado em paz, voltaram com força.

Chorava muito e sentia muita falta da minha mãe. Ela era, de longe, a pessoa mais compreensiva da família e, sem dúvidas, minha referência nos momentos de conversar. O medo voltou a me dominar e sair para trabalhar, por exemplo, era algo bastante difícil. Sem contar, é claro, a vontade zero de até mesmo levantar da cama.

Mas, isso passou…

Confesso a você que por muito tempo imaginei que nunca iria me livrar disto. Até mesmo um médico, certa vez, me disse que o pânico não tinha cura… Eu precisaria aprender a conviver. Mas eu te pergunto: Como? Como conviver com algo que te machuca tanto? Não. Eu não aceitava aquilo de jeito nenhum e pedia à Deus para tirar de dentro de mim.

Hoje, depois de anos lutando, aprendi inúmeras coisas sobre mim mesma. Entre elas, aprendi a como me defender do pânico. Digo com todas as letras que estou curada, pois já consigo reconhecê-lo e as coisas que podem ativá-lo dentro de mim. E eis aqui um ponto fundamental nessa luta: Autoconhecimento.

No meu caso, situações em que eu me sinta oprimida, por exemplo, são certamente gatilhos muito fortes para novas crises. Detesto receber pressão como já recebi outras vezes (na igreja e em relacionamentos, por exemplo) e evito brigas, discussões e ambientes que me deixam nervosa. Acredito que esse tenha sido um dos mecanismos que minha mente criou para evitar o sofrimento.

Há mais de 2 anos não tenho crises! Algumas vezes percebo que lá de longe o pânico parece querer dar as caras, mas felizmente aprendi a mudar o foco do meu pensamento rapidamente (uma das minhas armas para a cura). Hoje sei me defender e a luta já não é mais como antes.

Tchau, pânico! - Compartilhe sua experiência conosc.

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