Minha primeira experiência com a síndrome do pânico

Texto também disponível em áudio

O ano era 2016. Não só estava próximo de completar 22 anos como também estava prestes a ter minha primeira experiência com a síndrome do pânico.

Nesse momento, eu cursava o 7º semestre de Engenharia mecânica na faculdade e estava prestes a viajar para um estágio de 6 meses na Alemanha, para uma pequena cidade chamada Geesthacht. E este é o lugar onde tudo aconteceu.

Imagem do texto sobre minha primeira experiência com a síndrome do pânico
Imagem retirada do link

O 1º indício

Posso dizer que as primeiras duas semanas longe de casa foram ok, pois eu ainda curtia aquele “momento mágico” e tentava me virar. Porém, alguns dias mais tarde a ficha cairia e as coisas começariam a degringolar.

Certa tarde, após cerca de 10 dias na terra do chucrute, saí do trabalho e decidi voltar caminhando pra casa. Posso apostar com você que aquela cidade nunca viu alguém chorar e soluçar tanto quanto eu naqueles 30 minutos de caminhada. Um desespero abrupto me atacou e eu só conseguia me perguntar o que estava fazendo tão longe de casa. Por que deixei meu lar e toda minha zona de conforto para trás? Como iria me virar lá sozinho?

Eu não conseguia responder nenhuma dessas perguntas de forma racional. Na verdade, eu não tinha tempo para respondê-las, pois antes mesmo de conseguir pensar em uma resposta minha mente já me apedrejava com mais outras cinco perguntas. Eu estava prestes a ter a primeira experiência com a bendita síndrome do pânico.

O 2º indício

Já na metade da semana seguinte lembro de ter acordado com uma dor muito forte no pescoço. Fui trabalhar normalmente, porém no meio da manhã decidi procurar o ambulatório da empresa. Depois que fui examinado o médico recomendou que eu passasse na farmácia para comprar um remédio com nome em alemão impronunciável e que fosse para casa repousar. E foi exatamente o que eu fiz.

Se esta não foi a pior, foi sem dúvida uma das piores tardes que já passei ao longo da vida. Não pela dor, mas por causa da pior coisa que alguém na véspera de uma crise de pânico pode ter: Tempo livre. Sabe aquele ditado “mente vazia, oficina do diabo”? Então, lá estava eu preparando a oficina para o dito cujo. Como que eu conseguiria suportar 6 meses naquele lugar? Por que eu estava fazendo aquilo? Novamente esses pensamentos martelavam minha cabeça.

Apertem os cintos, pois ela chegou!

Na tarde do sábado seguinte fui ao banco com um colega chamado Pedro, pois ele precisava sacar dinheiro para um passeio que faríamos à noite. E finalmente ali, naquela pequena agência no centro de Geesthacht, foi onde tive minha primeira experiência com a síndrome do pânico.

Lembro claramente, mesmo depois de quase 10 anos, daquela sensação de “preciso sair daqui agora!”. Não estava acontecendo absolutamente nada na minha volta e, mesmo assim, eu me sentia congelado e desesperado.

Meu colega estava tão concentrado tentando sacar dinheiro que nem reparou no que estava acontecendo (e eu agradeci imensamente, pois não queria mostrar qualquer sinal daquilo). Foram necessários alguns minutos e respiradas difíceis até voltar à racionalidade.

De noite, quando saímos, meu corpo e minha mente estavam anestesiados. Que sensação estranha, pois eu estava ali, mas ao mesmo tempo não estava. Minhas pernas caminhavam normalmente e meus ouvidos ouviam todas as bobagens que falávamos, mas eu não estava ali. E assim eu passei a noite toda: Para lá, para cá, caminhando, rindo e não estando lá.

Ela me venceu

Voltamos para casa e no dia seguinte (domingo), pouco antes de sair novamente com meus colegas para irmos a um boliche, minha mãe me ligou. Tudo o que eu conseguia dizer era que não queria mais estar lá de jeito algum. Caminhei quilômetros dentro daquele quarto enquanto falava com ela, pois o desespero não passava. Eu estava fora de mim e sentia que estava enlouquecendo e perdendo completamente o controle.

No boliche, entre uma jogada e outra, fui ao banheiro e lá, na frente do mictório, decidi de vez que não queria mais passar por aquilo. Eu estava muito assustado e não queria mais continuar daquele jeito. Mesmo muitíssimo envergonhado por estar tomando essa decisão decidi desistir daquilo tudo e voltar para Porto Alegre.

Voltei a respirar tranquilo a partir daquele momento e magicamente voltei ao que eu julgava ser o meu normal. Saí do boliche, retornei para casa e avisei meus pais e amigos da minha decisão. “Chega! Eu vou enlouquecer se continuar aqui” era o que eu dizia para todos. Eu estava aliviado, mas carregando uma vergonha imensa ao mesmo tempo. Como alguém que está na Alemanha repleto de oportunidades decide voltar em 1 mês? O que está acontecendo?

E assim, no dia 19 de março de 2016 (dia do meu aniversário), 35 dias após embarcar para o velho continente eu voltava para casa. Quando desembarquei em Porto Alegre me senti curado. Zero medo, ansiedade ou qualquer uma daquelas coisas estranhas dos últimos dias. Apenas vergonha.

E você?

Agora que você leu isso tudo eu pergunto: Você se identificou? Consegue entender as sensações que tentei descrever? Se sim, eu gostaria de lhe dizer: ISSO PASSA!

Confere aqui no blog um pouco mais das minhas histórias e dicas sobre o que fazer nessas situações. Te vejo no próximo texto.

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Karine Monteiro
2 meses atrás

Eu tive síndrome do pânico, foi surreal e começou aos poucos. Comecei a encanar com o celular alguém estava clonando meu Whatsapp. Mas o ponto que piorou: estava no hospital cuidado do meu tio e comecei ouvir vozes: “vou te matar” às 4:00 horas da manhã. Saí e deixei meu tio no hospital, pois as vozes não paravam. Como eu superei? Vcs me chamam também pra saber o fim.