Me chamo Regina, tenho 67 anos, sou paulista e quero compartilhar com você algumas histórias da minha vida com as crises de pânico. Após conversar com o Matheus, proprietário do Tchau, pânico!, apoiei a ideia de também expor minhas experiências com essa doença e ajudar aqueles que, de alguma forma, possam se sentir abraçados ao ler.
Portanto, aperte o cinto, prepare a pipoca e conheça agora um pouco da minha vida com o pânico.
O começo de tudo
As primeiras “sensações estranhas” começaram por volta dos meus 7 anos de idade. Me lembro até hoje de sentir que eu iria simplesmente sumir a qualquer momento e de me agarrar em pessoas próximas, fechar meus olhos e esperar passar. Por alguns anos isso fez parte da minha vida, mas ainda bem distante do caos psicológico que o pânico iria causar.
Muito tempo depois, já com 26 anos de idade, casei pela primeira vez e, mesmo contrariada, me mudei com meu marido para o litoral de São Paulo. Lá ficamos por dois anos, enfrentando muitas dificuldades. Retornamos para nossa cidade natal devido a problemas de saúde do meu pai e, pouco tempo depois, nos separamos (a pedido dele). E logo no segundo dia após a separação tive uma crise horrível. Acordei me debatendo sem parar no meio da noite, muito assustada com o que estava sentindo.
Foi como se a partir daquele momento minha vida tivesse sido invadida por uma sucessão interminável de crises de pânico (acredite: Emagreci cerca de 25kg em um mês). É claro que naquela época – anos 80 – tudo isso não passava de uma frescura ou algo que logo passaria. Mas que nada! A sensação de pavor era imensa e parecia não ter fim.
Novas crises surgem
Meses depois conheci meu segundo marido, com quem fiquei por 12 anos. Estávamos há cerca de 4 meses casados quando decidimos acampar durante um final de semana na cidade de São Sebastião (a mesma onde eu havia morado com meu ex-marido). Porém, o que era para ser um momento de alegria com meu irmão e a namorada, se transformou em um pavor!
Na noite de sábado para domingo comecei a ouvir várias vozes na minha cabeça, como se uma multidão estivesse na minha volta falando ao mesmo tempo. Aquela sensação era horrível… Eu não conseguia acalmar minha mente de jeito algum e aquilo rapidamente se transformou em uma crise violentíssima. Saí para caminhar e tentar me acalmar, mas quando voltei para a barraca ainda não havia conseguido calar todas aquelas vozes. Acabei dormindo pelo cansaço mesmo.
No dia seguinte, quando voltamos para a cidade, o abalo daquilo tudo ainda me rondava e voltava junto dentro da mala. Confesso que procurei por ajuda, mas não tive grande sucesso. Na verdade, tenho a impressão que os próprios médicos, na época, nem sabiam direito o que era aquilo, afinal de contas o pânico ainda não estava tão em voga quanto hoje.
Parecia não ter fim
Em outra oportunidade, quando viajei para casa de um amigo no Paraná, me senti mal no meio da estrada. Fui obrigada a parar o carro em um posto e conversar com alguém – um completo estranho, mas que naquele momento era a válvula de escape que eu precisava. Fiquei no Paraná por uma semana e, infelizmente, foi horrível. Parecia que aquela crise no acampamento tinha criado uma espécie de bloqueio em mim para viagens.
Os anos passaram e eu, aos 38 anos, me separei novamente. Vivi por certo tempo sozinha e, pasmem vocês, sem crise alguma. Aparentemente as benditas crises haviam me dado um descanso. Porém, meses depois de conhecer meu 3° e atual marido, elas voltaram novamente. E comigo permaneceram por cerca de mais 10 anos.
Hoje, já mais madura, consigo perceber alguns detalhes importantes dessa minha relação com o pânico, como por exemplo:
- Se manifestava quando alguma coisa ruim acontecia na minha vida;
- O período da noite era o pior momento para mim;
- Meu maior e principal medo era o de morrer;
- Ir para frente de um hospital ou farmácia me acalmava, pois eu me sentia em um ambiente seguro.
Finalmente a cura
Na época, eu não fazia ideia do que estava acontecendo comigo. Uma colega do trabalho, certa vez, me falou que uma conhecida havia feito um tratamento para algo bem similar ao que eu sentia naquele momento. Ah, fui atrás… E finalmente, aos meus 49 anos de idade, encontrei um anjo vestindo jaleco branco chamado Dr. Júlio.
Iniciamos o tratamento com o remédio Clomipramina e, junto com ele, um outro medicamento apenas para evitar os efeitos colaterais dos primeiros dias de uso desse tipo de medicação. Permaneci neste tratamento por 3 anos até finalmente fazer o desmame. Hoje, mesmo depois de 18 anos sem tomar qualquer medicação, não sinto mais medo de sentir medo e posso afirmar que ESTOU CURADA.
Quero por fim lhe dizer, caro leitor(a), que essa doença não precisa dominar a sua vida. Você também pode se curar! Convido você a fazer parte desse grupo de maluquinhos de carteirinha como eu e o Matheus, que hoje, depois de muita luta e sofrimento, falam abertamente sobre como superaram essa doença.
Você é muito bem-vindo(a). Um forte abraço!

👏 vitoriosa!🤗
Obrigada por compartilhar tua experiência.